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EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA/ELEIÇÕES MUNICIPAIS TR -1966

EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA/ELEIÇÕES MUNICIPAIS TR -1966



O DISCÍPULO DE MAQUIAVEL

1ª PARTE

Desde 27 de outubro de 1965, em obediência ao Ato Institucional nº2, a exemplo do que ocorria em todo o país, Três Rios vivia período de transição política. Procurava se adequar às novas diretrizes institucionais ditadas pelo governo militar que modificara o sistema partidário instituindo o bipartidarismo que trazia à cena política a ARENA - partido da situação e o MDB, de oposição.
Mudara também o sistema eleitoral,  tornando indireta a eleição para presidente da República e governadores e, num prêmio de consolação, deixava direta a eleição para prefeitos, vereadores, deputados e senadores.
A ARENA trirriense teve a sua formação encabeçada pela união dos seus principais caciques políticos, e grandes opositores políticos de outrora: João Silveira (foto), Joaquim Ferreira, Mário Reis e Cézar Louro. Surpreendida ficava a massa eleitoral que jamais, em tempo algum, poderia imaginar aquela súbita conciliação de tradicionais adversários políticos que desafiava a todos os ditames ideológicos e, a reboque, a mais cristalina das dialéticas partidárias.
Na tentativa de justificar aquelas bizarras pazes trocadas da noite para o dia,  os novos amigos arenistas argumentavam uma justeza de atitudes que os levaria a defender os interesses superiores do município junto ao governo militar. Mesmo com os seus sacrifícios eleitorais, porém, no objetivo meritório de canalizar mais auxílios, mais obras, mais recursos para Três Rios.
O outro lado da moeda partidária mostrava o elenco do opositor emedebista trirriense, nascido da reunião de políticos sem conforto nos compartimentos da nau situacionista, mas que igual a ela reunia em suas hostes gregas e troianas, etruscas e persas, cobras e lagartos.
Essa geleia geral também deu um nó cego na cabeça do eleitorado na tentativa de entender e resolver aquela difícil álgebra partidária. A confusão recrudescia no tempo quente aberto pelas duas neo-correntes políticas que se digladiavam em acusações.
O MDB criticava a formação arenista, chamando a atenção para o que entendia como única razão daquela deformada miscigenação partidária: o afã desesperado dos antigos caciques políticos em salvar as próprias peles, enquanto esses acusavam os emedebistas de levados por claro oportunismo, optarem pela oposição valendo-se de uma impopularidade já sentida no governo militar e na qual já vislumbravam uma generosa máquina de votos.
A bem da verdade, a infância do MDB em Três Rios foi meio assombrada. A ata da sessão ordinária da Câmara de Vereadores de 10 de maio de 1966 apresentava registros bem eloquentes do tempo- quente: o vereador Joel Maia declarou que ingressara no MDB, mas que não era contra a Revolução; o vereador Walmir de Oliveira anunciou que se fora contra a Revolução em outra oportunidade, naquele momento era contra a qualquer movimento contrarrevolucionário e, arrematando aqueles votos “muristas”, o vereador José Araújo Damasceno informava que o governo revolucionário recebia os componentes do MDB como sinal de vida da democracia do país. E aí, para o bom entendedor, se pingava um ponto final.
Em julho daquele ano a força do golpe da mão revolucionária fez-se sentir na cassação do mandato do deputado estadual Arsonval Macedo, um dos primeiros filiados ao MDB, encerrando assim definitivamente sua carreira política,  iniciada na vereança vinte anos atrás, em 1947. Essa truculência institucional veio aumentar ainda mais a população dos súditos do reino da mordaça, ao temor daqueles tempos de implacáveis patrulhamentos verbais.
Contudo, naquele cenário uma boataria se fazia célere,  dizendo ser ARENA e MDB apenas facções provisórias a serem dissolvidas em março de 67, posto que suas criações tinham apenas o caráter de colégios de filiação partidária indispensáveis ao registro de candidaturas para as futuras eleições. E assim, uma água morna banhou por algum tempo as duas forças político-partidárias, todavia, com a proximidade das eleições municipais de 15 de novembro de 1966, obrigatoriamente, essa temperatura foi aumentada para melhor requentar som e imagem dos palanques que já se armavam.