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EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA / MÃE PRETA

EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA / MÃE PRETA



 A MÃE PRETA

 EZILMA TEIXEIRA*

O monumento à mãe preta, localizado na praça do mesmo nome, no centro nervoso do progressista bairro Vila Isabel, em Três Rios, hoje,13 de maio de 2016, completa 53 anos de presença e boa história. Nosso município já conta, felizmente, com um bom número de relíquias tombadas e, infelizmente, com tantas outras desprotegidas dessas iniciativas de preservação. Como o monumento aqui em tela, já merecedor, pelo tempo e referências, de uma proteção legal, em respeito às tradições trirrienses. Publico abaixo um antigo estudo de minha autoria que só foi possível, em citações de dados oficiais, pelo registro cuidadoso do historiador Hugo José Kling ,em seu livro “Cinzas que falam”,1971,Esdeva.  O autor, inclusive, fez parte da comissão pro ereção do monumento. O fundamento do monumento à Mãe Preta,  Já desde os anos 50, José Soares colaborava semanalmente com artigos no Entre - Rios Jornal. Ele não era de Três Rios, ao que parece aqui aportou nos anos 30/40 e logo teve profunda integração com o povo entrerriense/ trirriense e consequente interesse pelas suas tradições. José Soares tinha uma microempresa onde fabricava e comercializava pequenas peças de mármore, por isso mesmo era conhecido por “”Soares Marmorista” . Teve certa militância política, naqueles tempos era chamado, meio à boca pequena, de "comunista", pela sua fixação em uma sociedade sem classes. Em dezembro de 1960, em um artigo do jornal, lançou uma campanha para se construir um monumento em homenagem à mãe preta, que declarava mãe duas vezes, “Mãe do filho de suas entranhas e mãe do filho branco do sinhô e sinhá” - tal como deixou escrito. Depois de se estender em justas e acertadas considerações em favor de sua sugestão, José Soares fazia um convite, citando mesmo nominalmente várias pessoas que poderiam ajudar a levar avante sua campanha. Logo iniciado o ano de 1961, José Soares promoveu uma reunião em sua casa na tentativa de constituir uma comissão de propaganda Pró-Construção do Monumento à Mãe Preta. Dela fizeram parte os ex-vereadores Armando de Almeida e Luiz Gonzaga Ribeiro de Carvalho. A dita comissão ainda contava com José Marques, Nilo Correia da Silva, José de Oliveira, Avelino José Correia, Etelvino Miranda Paulino, Hilda Santana Soares e Hugo José Kling. Após várias iniciativas dessa comissão, no dia 29 de janeiro de 1961, foi formada a comissão executiva para a construção do monumento. O então prefeito, César Pereira Louro, foi o presidente de honra e a primeira-dama Déa Fonseca Louro foi a presidente da comissão. Os demais cargos foram ocupados pelo vereador Hélio Carlos de Almeida, Manoel Juventino Santana, Hugo José Kling, Antero Ribeiro de Azevedo, Valter Pereira, Antônio Maximiano, Pedro Braz, Pedro dos Santos, Fuad Elias Auad e Manoel João, entre outros notáveis. Mais tarde outros nomes vieram se juntar à campanha que tomou vulto e que contou com ampla colaboração popular. Não obstante o entusiasmo para a construção do monumento, reações contrárias surgiram. Umas declaravam que a quantia que se arrecadava para a ereção do monumento teria melhor destino no socorro aos necessitados, outras tinham cunho em preconceito racial, ainda outras que consideravam que a iniciativa poderia suscitar ideia de discriminação racial. O monumento e a praça Após quase dois anos e meio de luta pelo ideal, o monumento à Mãe Preta foi inaugurado na tarde do dia 13 de maio de 1963. Seu busto em bronze apresenta uma escrava embalando uma criança, numa tradução à abnegação, paz, ternura, carinho da mulher escrava ao filho do senhor. A efígie encerra, também, a importância da mulher escrava no processo do desenvolvimento local e uma decorrente gratidão dos que a sucederam. O busto é amparado por pedra de granito, onde consta placa com o nome da comissão de preitos para aquele monumento, data de inauguração e trova comemorativa de autoria do poeta Antônio Coutinho Júnior. Ignora-se do autor do monumento. O espaço onde está erigido o monumento foi denominado Praça da Mãe Preta. O ementário dos logradouros públicos da Prefeitura do Município apresenta dois atos (Lei/Decreto) para esta denominação oficial: um de número 247, de 12 de março de 1957 e outro de número 352, de 04 de agosto de 1960. Evidente que a praça recebeu esses Atos antes da sua inauguração oficial. Ao que parece um apelo popular já denominava aquele espaço de “Mãe Preta” ,no início dos anos 50,talvez daí o ato de 1957.

O monumento à mãe preta constitui importante registro não apenas da nossa História do período da servidão negra por aqui, mas uma interessante pedagógica marca local do legado da Condessa do Rio Novo aos seus recém-libertos, e mais, um sempre atualizado retrato sentimental do carinho das chamadas mães-de-leite, a mãe preta. Histórico,  didático, singelo e cálido.

* EZILMA TEIXEIRA é escritora, professora e historiadora