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EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA/UM OPERÁRIO NO PODER

EZILMA TEIXEIRA RELEMBRA/UM OPERÁRIO NO PODER



Pela terceira vez o povo de Três Rios iria votar escolhendo o seu novo prefeito e a nova composição da sua Câmara de Vereadores. As eleições aconteceriam no dia 3 de outubro de 1954. Naqueles idos, a população eleitoral era de 13.889 eleitores e cinco candidatos se apresentavam àquela peleja democrática.
O candidato Joaquim José Ferreira, do PTB, derrotado na eleição anterior, concorria ao cargo de prefeito pela segunda vez. Com grande carisma junto à família ferroviária, Ferreira fez com êxito sua política com concorridos e bem-sucedidos comícios no portão do 3º Depósito da Estrada de Ferro Central do Brasil na hora do almoço, das 11 e 45 às 12 horas .Seu candidato a vice-prefeito era José Ferreira de Souza, cidadão respeitado, tronco de numerosa e tradicional família trirriense e com fácil trânsito nas variadas camadas sociais.
Outro candidato era o vereador Geraldo Monnerat, emérito educador, fundador e diretor do Colégio Entre-Rios. Vereador com brilhante desempenho na Câmara Municipal de 1952-1955, onde, inclusive, foi o líder da maioria do PSD, partido que lhe dava suporte também naquelas eleições e com o irrestrito apoio do prefeito João Pedro da Silveira que colocara as páginas do seu então semanário Entre-Rios Jornal a serviço da sua candidatura.
O ex-vereador Áquilas Rodrigues Coutinho era também candidato. Nas eleições de 1950 não conseguira sucesso numa candidatura a deputado estadual, contudo, sua boa atuação como vereador na primeira composição do legislativo, em 1947, deu-lhe base necessária à considerável preferência do eleitorado. Além do reconhecido talento político era o respeitado professor, musicista, excelente orador e intelectual de proa. Sua candidatura tinha o amparo da coligação UDN –PRP e seu vice era o fazendeiro e industrial Urbano Carlos de Almeida Júnior, figura com incontáveis serviços prestados à causa autonomista e ativo participante da vida política trirriense.
O vereador Sebastião Fernandes de Oliveira, campeão de votos nas eleições de 50 e com grande trânsito eleitoral junto aos ferroviários, cumpria o seu segundo mandato. Aspirava ao Executivo agora pelo seu novo partido, o PSP-coligado com o PSN - após deixar o PTB, no rumoroso episódio partidário de 53 quando, seguido por toda a bancada petebista, deixou aquele partido sem representação parlamentar. Formava a sua chapa, candidato o vice-prefeito Waldemar Carneiro da Silva ( o Carneirinho ), concorrente derrotado à prefeitura em 47 e que também se desligara das hostes petebistas.
O quinto candidato despontava para a vida pública, concorrendo pelo PTN, o conceituado médico Sebastião Celito Gouvêa Mello que, anos mais tarde, teria mandato de vereador e de deputado estadual. Elomir de Oliveira Tavares reforçava a sua chapa como candidato à vice.
Embora aquela eleição apresentasse cinco concorrentes, os candidatos do PTB e do PSD já deixavam antever força eleitoral aos seus nomes. Se Joaquim Ferreira era a tônica na massa operária do 3º Depósito, multiplicando os seus votos na família ferroviária, Geraldo Monnerat, além de representar uma elite política que torcia o nariz à possibilidade de um governo popular, tinha como poderoso cabo eleitoral o vigário polonês padre Francisco Foit que, entre a cruz e a espada, entregara sua voz e ação àquela candidatura sinalizando para a fé católica conjugada ao excelente potencial político de Monnerat, não poupando Joaquim Ferreira de virulentas críticas embasadas na sua ideologia política que entendia populismo e nacionalismo como comunismo.
Realizadas as eleições, com o percentual de 25% de abstenção, os trabalhos de apuração foram presididos pelo juiz Moacir Marques Morado e os resultados foram conhecidos: Joaquim José Ferreira-2525 votos; Geraldo Majela Monnerat- 2322; Áquilas Rodrigues Coutinho-1361; Sebastião Celito Gouvêa Melo-1094 e Sebastião Fernandes de Oliveira-394 votos.
Para a vereança concorreram 87 candidatos disputando 13 vagas. A composição da nova Câmara de Vereadores apresentou um empate das forças partidárias - PTB E PSD - que dominaram aquelas eleições. Pelo PTB elegeram-se Octávio Freitas-289 votos; Francisco Rômulo Salzano-223 (reeleito); José Moacyr Pereira - 215 e Luiz Gonzaga Ribeiro de Carvalho-150. O PSD fez a sua bancada com Mário Canelas Barbosa - 487 (o mais votado); Sylvio Luiz de Figueiredo-264 (reeleito); Newton Xavier-249 (reeleito) e Geraldo Ribeiro de Carvalho-171 - A coligação UDN –PRP fez os vereadores Abelardo Brandão Caldas- 250 e Waldyr Marinho Rego-167 (reeleito).Representando o PTN elegeram-se Mário de Castro Reis 401(reeleito) e Darcy Cezar Guimarães- 155 (reeleito) restando ao PSP a eleição de Belmiro José de Lima com 171 votos.
Para a prefeitura um operariado chegava ao poder, não tardando provocar a abertura de uma contenda ideológica: Joaquim Miguel Vieira Ferreira, presidente de uma infensa tal Legião Anti-Comunista, impetrou recurso junto ao Tribunal Eleitoral onde tentava a impugnação da diplomação do prefeito eleito. O episódio agitou as esferas políticas locais até a decisão do Tribunal pela preliminar do exame da qualidade do impetrante, do que resultou não reconhecer condições do requerente para tal recurso de impugnação. Solucionado o rumoroso entrevero ideológico, confirmando a diplomação de Ferreira, o resultado agradou, inclusive, aos seus opositores políticos que unânimes entenderam que tal situação criada trouxera para todos os partidos justificado constrangimento, julgando extemporâneo e nada simpático o episódio.
Resolvidas as pendengas prefeito e vereadores foram proclamados eleitos e diplomados no dia 29 de outubro de 1954, em formal cerimônia acontecida no salão nobre da prefeitura.
O prefeito Joaquim José Ferreira cumprindo todo o seu mandato governou o município até o dia 31 de janeiro de 1959, sofrendo forte oposição dos vereadores, principalmente os da égide pessedista, com implacáveis bombardeios oposicionistas pelas páginas do Entre-Rios Jornal.
Como prometera ao seu eleitorado,  realizou um governo todo ouvidos às camadas populares, severo no trato da coisa pública e, como estilo personalíssimo de administração, indo quase que diariamente in loco na fiscalização do andamento das muitas obras que promovia. Célebre entre suas obras uma revitalização da Praça da Autonomia para mudança no calibre do logradouro, em acontecimento inusitado e com a ajuda da máquina Caterpiler, fez as antigas árvores “andarem”, para seus perfeitos ajustes e vida normal.
Das muitas realizações uma sobressaiu-se pelos efeitos favoráveis à vida econômica do município: foi desse prefeito a iniciativa de oferecer condições para a instalação da Companhia Industrial Santa Matilde, visão administrativa que promoveu uma revolucionária mudança no panorama da geração de empregos na região e que se manteria por muito tempo.
Como também em política o tempo se encarrega de recolocar tudo nos seus devidos lugares, bom exemplo desta assertiva foi o ocorrido ao apagar das luzes do mandato do prefeito Ferreira - que nas eleições de 50 promovera ácida oposição à candidatura de Walter Francklin à deputação estadual. Em revisão àquela virulenta oposição passada passou a respirar ares de harmonia com a memória do nosso 1º prefeito-interventor, de maneira tal que, por subscrição pública, colocou a herma de Walter Francklin na Praça São Sebastião, em homenagem à sua memória político-administrativa, por méritos inegáveis e indiscutíveis. O prefeito Ferreira assim deu a mão à palmatória e em 31 de janeiro de 1959, em seu último ato de prefeito legou Três Rios de um dos seus mais bonitos e significativos monumentos.
Nessa nova Câmara de Vereadores, além da consagração dos reeleitos, um novo “time” de edis trouxe expoentes à vida política de Três Rios que deixaram suas marcas bem impressas, numa injeção de sangue novo, atualizando aos novos tempos, novas fórmulas e modernos passos no ato legislativo que iriam influenciar toda uma nova geração já bem motivada ao ingresso na vida pública. (Na galeria abaixo, os vereadores eleitos)